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metáfora da jabuticabeira

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  A melhor amiga da minha mãe desde os 16 anos me ligou para desejar feliz aniversário. Eu a chamo de tia, porque é assim que penso nela. É bom ouvir sua voz. Ela diz: — Entrei no seu facebook outro dia e pensei, olha só, parece que ela gosta de ler. Continue assim, viu? Isso é muito bom. Devo ter levado apenas alguns décimos de segundo para responder, mas na minha cabeça aquele momento se estendeu infinitamente. Acho que ainda estou vivendo nele, na verdade. Ainda estou processando. A melhor amiga da minha mãe pegou um avião e passou quinze dias no inverno de São Paulo quando eu nasci . Todo mundo sempre comenta sobre como estava frio. Meu nascimento foi praticamente uma semana depois da data limite que o médico havia dado. Estava quase na data do voo de retorno quando eu finalmente dei o ar da graça. Não é interessante? Ela me conhece minha vida inteira. Mas moramos a horas e a centenas de quilômetros de distância uma da outra. Não conversamos com frequência. Eu a amo, e ela me ama

Os melhores de fevereiro

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Um mês de leituras bastante variadas. Apesar disso, minhas duas leituras preferidas falam sobre mundos fantásticos paralelos ao real. Magic for liars - Sarah Gailey   A premissa da trama é uma investigação de assassinato dentro de uma escola de magia, por uma pessoa que não faz magia. Se fosse só isso já seria interessante. Mas é sobre relações familiares, e sobre como certas experiências nos definem. É um tantinho devastador, da sua própria maneira. O final é um tantinho amargo, mas esperançoso. Mesmo se você conseguir descobrir a resposta do mistério antes. A cabeça da protagonista é um lugar divertido onde se estar. O livro brinca com estereótipos de várias espécies: escolas de magia, os filmes de high school americanos, o investigador particular. Nossa protagonista faz um constante comparar entre expectativas e a realidade do que está vivendo. Quatro meses depois, não lembro o nome de nenhum personagem. Mas não tem problema. Minha preferida é a senhora que trabalha de secretária da

Renascimento

Tenho estado emocionalmente instável, por uma série de motivos que não vêm ao caso; coisas de sessão de terapia. Um deles, porém, é óbvio, e não preciso que minha psicóloga me ajude a resolver. Não estou escrevendo. Certo, estou escrevendo agora. Estava escrevendo no meu diário até esgotarem as páginas (preciso esperar que o novo chegue). Tudo isso é bom, tudo isso ajuda, até certo ponto, mas não é do que estou falando. Não sou escritora por vocação, sou escritora por necessidade. Quando não escrevo, entro em declínio. É como anemia. Vou ficando mais fraca, mais sensível, mergulho em mim mesma da maneira oposta que a meditação e a terapia recomendam. Perco o propósito. Sei a solução. Tenho autoconhecimento suficiente para isso. Preciso escrever. A questão é que o mito do artista depressivo que produz das sombras é exatamente o que está no nome: um mito. Já disse isso uma vez e direi de novo: tudo o que temos de artistas com problemas de saúde mental ou física foi feito apesar desses

Os melhores de janeiro

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Multitasking: a stream do meu namorado está na outra aba, Sour da Olivia Rodrigo está tocando no meu celular e estou escrevendo esse post enquanto penso sobre como vou anotar no meu caderno de ideias a respeito do gato (?) que vi ontem à noite em um terreno baldio. Ainda não estou convencida de que não era um duende ou algo similarmente fantástico. De todo modo.  Eu li 54 livros esse ano. Dezessete em janeiro, quinze em fevereiro, porque consegui a assinatura de uma biblioteca virtual e fiquei entusiasmada. São muitos livros. Ao invés de falar sobre todos, quero comentar sobre meus preferidos/os melhores. Janeiro foi o mês de We keep the dead close , de Becky Cooper. Eu não costumo assistir ou ler coisas sobre crimes reais, porque sou impressionável e empática, e ler sobre crime me faz mal. Ao pegar o livro, na verdade, pensei que fosse ser algo nas linhas de um ensaio-estudo sobre machismo e feminismo em Harvard. Em alguns momentos chega perto, mas com certeza não é o foco. O livro é

Feliz aniversário, S. T. Coleridge

Hoje é aniversário de 248 anos de Samuel Taylor Coleridge. Venho estudando um conceito criado por ele há mais de um ano. Já me digladiei com diferentes biografias pra descobrir afinal se ele era o décimo primeiro ou décimo terceiro filho, e descobri que ele pode ser considerado o décimo quarto (depende como você conta; o pai teve duas filhas em um casamento anterior e um dos irmãos mais velhos dele morreu ainda bebê). E passei esse tempo todo achando que ele era escorpiano. Não, não. Escorpião só começa dia 23. E na verdade faz muito sentido ele ser de libra, porque librianos são artísticos, indecisos e completamente malucos. E o Coleridge era todas essas coisas. É muito engraçado para mim pensar que ele devia ser chamado de Sam. Sam Coleridge. Sam C. Não consigo pensar nesses termos. Não somos íntimos. Mas eu li trechos do diário de sonhos dele, que criptografou com palavras de diferentes idiomas e símbolos. Sei que casou com uma Sara e que passou boa parte da vida apaixonado po

Cleopatra, a life - Stacy Schiff

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Mortos de Fama: Cleópatra e sua víbora, mas dessa vez com uma bibliografia e linguagem poética. Agora eu tenho tanta trívia sobre os últimos 100 anos antes de Cristo. Mal posso esperar para ser o centro das atenções nas festas. Minhas opiniões fundamentais não mudaram: ainda acho a Cleópatra uma das pessoas mais impressionantes de que temos registro. Ainda acho a história dela com o César a aliança mais apaixonante. Ainda acho o Marco Antônio um bobo alegre. Coitado. Ah, e o Otaviano/Augusto ainda é um metido. Algumas coisas não mudam das primeiras impressões aos 11 anos. É uma biografia tão bem escrita e pesquisada que em dado momento achei que fosse de uma historiadora. Tem quase 100 páginas de notas e referências. Mas não, é só de uma autora ganhadora do Pulitzer por outra biografia. Ela tem uma especialização. As analogias dela são muito boas, mesmo que algumas se repitam ao longo do livro. Talvez seja proposital. Quem sabe. É um livro para ser relido. Em dado momento vou repassar

O grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

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Uma releitura que foi como uma primeira leitura. Devo ter lido esse livro pela primeira vez em 2014, e lembro de ter ficado bastante impactada por ele. Mas não lembrava de nada além da sensação. Assisti o filme antes e pensei que o filme (o de 2013, do Baz Luhrmann) tivesse inventado um monte de coisa, mas acabei descobrindo que é uma adaptação bastante fiel. O livro é muito mais engraçado e mais trágico do que eu lembrava. Personagens e situações mais absurdos. A escrita, como esperado, é muito boa, e alguns trechos são bastante mágicos ("sua contagem de objetos encantados tinha diminuído em um"). Fui prejudicada na minha apreciação deles, porém, porque a versão que eu li tinha um prefácio de cinquenta páginas de um professor de literatura espertão, e ele analisou todos os melhores hits no prefácio. Eu não consegui sentir que estava descobrindo as frases bonitas, porque elas tinham sido todas apontadas para mim mais cedo. Foi um pouco frustrante. Vou ter que reler no futuro.